AS SERENATAS
Quando queremos acreditar que a Praxe é imortal e intemporal, uma boa forma de reforçar a ideia é através desse momento ultra romântico que é a Serenata.
Por muito ridícula que possa parecer aos olhos de muitos, é inegável que a Serenata atribui ao estudante a face poética da sua vida académica.
Sendo de origem medieval, foi nos meios estudantis que adquiriu o cariz académico que a Capa e Batina tão bem ilustram.
Nós os Portugueses, como povo poeta que somos, temos bem dentro de nós um romantismo que já nasce connosco e se traduz no cantar da Saudade, no Fado. Bem lá no fundo, não há alma lusitana que não encontre beleza numa serenata entoada ao luar.
«A mecânica tradicional das Serenatas não é, necessariamente, mais do que uma curiosidade, visto que elas partem do mais íntimo de cada indivíduo. Ninguém se terá lembrado de inventar uma fórmula para as declarações de amor... Também, para as Serenatas o que vale é o sentimento e a capacidade de o exprimir. Só mesmo a distância entre o fadista e a sua amada explica a existência de qualquer coisa como uma linguagem que entre eles nasceu nas serenatas. Ela se resume a que a amada acenda e apague a luz três vezes, se aceita a serenata. O declarante, esse, distingue-se por, na altura de cantar, dar alguns passos em frente que o colocam só e mais perto da sua amada.
Pessoas existem que, a estas duas singulares formas de linguagem, acrescentam uma outra. Trata-se de uma flor que o declarante enviaria, a qual, uma vez aceite, significaria também a comunhão de sentimentos e, quando rejeitada, seria obviamente o contrário. Não duvidamos da beleza do gesto mas... talvez não venha senão a complicar uma situação onde tudo deve ser simples, rápido e incisivo.
Receber uma flor, implica abrir uma janela por onde ela entre, o que nem sempre terá sido considerado muito digno para uma donzela.(*)
Há, também, quem insista num número fixo para os fados. Não vemos porquê. Se a polícia ou o pai da menina não apareciam, se o fadista estava intensamente apaixonado, qual a razão para cantar apenas quatro fados?
Acrescentam-se a este número, duas variações. Aceitamos uma cuja função será a de acordar a menina (que deverá estar mergulhada em sonhos de fadas e cavaleiros) para que ela possa suspirar a íntegra das palavras do declarante. Mas, duas variações?
Só se a outra for para terminar, o que a tornará facultativa...»
* - Lembremo-nos que ela não aparece nunca à vista.
(in QVID PRAXIS? (PORTVCALENSIS), Cabral, Manuel e Marrana, Rui; Porto, 1982, AEUCP)
Outro tipo de serenata é a Serenata Monumental, uma cerimónia que representa para muitos caloiros a primeira noite em que vestem o Traje.
Esta manifestação académica parece ser relativamente nova e é com ela que actualmente se procede à abertura da Queima das Fitas. Recentemente, têm cada uma de muitas instituições executado monumentais serenatas especialmente para os alunos de cada uma das instituições. Normalmente, dão-se na época de recepção ao caloiro e são uma maneira de lhes incutir o gosto e orgulho na tradição cantada logo desde o início do ano.
A explicação para o aparecimento deste tipo de serenatas parece simples. Os estudantes terão começado por cantar o Fado às populações não só em serenatas de modo a presentearem os cidadãos com a música da academia e a criar uma certa interactividade academia-população. Daí parece ter surgido a tradição de cantar à meia-noite, nas Serenatas Monumentais, seis fados e duas variações.
Normalmente, o evento toma como palco a escadaria da Sé Velha, em Coimbra e a varanda ou o átrio da Catedral da Sé, no Porto, uma vez que a velha catedral da Invicta não possui uma escadaria suficientemente longa para o efeito.
Penso que de quando em vez sabe bem ler coisas bem escritas…não fiquei indiferente ao texto quando passeava por um blog dedicado as Tradições Académicas…e desde já aproveito para felicitar a(s) pessoa(s) que o criaram… Fica a referência… http://pwp.netcabo.pt/qvidpraxis/serenatas.html
Atrevo-me a perguntar …
Qual será o significado de uma serenata na vida Académica de cada um de Nós?